"Quanto todas as músicas se encaixarem, você encontrou a pessoa certa...."

O Coração Nunca Mente

L. F. Oliveira....

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Escolha


Sons de água pingando ecoavam pela escuridão, não era possível ver nada, apenas sons eram ouvidos, passos rápidos no chão, quem sabe ratos. Até que a imagem de uma cela foi se formando, o raio de luz do luar invadiu o lugar e iluminou o único naquela cela.
Era uma criatura com porte médio, seus cabelos iluminados por trás do manto preto com o qual cobria o rosto eram loiros, suas orelhas pontudas e seus olhos azuis, pelo menos um deles.
– Aonde eu vim parar? – “O Sombra”, como era conhecido o ladrão mais temido em Vaulenda, reino dos elfos, se perguntava no meio da escuridão.
Sozinho, ferido e confuso, o ladrão no qual ninguém nunca pusera as mãos estava ali preso, ele que sempre chegara tão longe... Mas O Sombra acabou chegando longe demais.

[FLASHBACK]
Os pássaros voavam pela floresta que rodeava Vaulenda, nela apenas um elfo se aventurara a ir sozinho, Albanac Riogan ou para muitos, O Sombra. E naquela manhã ele estava lá, planejando seu próximo feito histórico, todos conheciam O Sombra por seus roubos perfeitos, ninguém nunca havia posto as mãos nele, muito menos seu coração havia sido fisgado alguma vez.
Albanac planejava como invadiria o palácio real àquele dia quando sons de cascos de cavalo invadiram a floresta, ele não estava sozinho. O ladrão pulou rápido para cima de uma árvore e armou seu arco, fosse quem fosse ele mataria.
Dois cavalos incrivelmente brancos passaram perto da árvore na qual O Sombra estava, mas algo o fez mudar de expressão e baixar o arco, ele nunca havia sentido aquela sensação, sua frieza estava indo embora com a imagem daquela elfa incrivelmente linda que ele estava vendo.
– Então princesa... – Falava a mulher que vinha no outro cavalo.
A princesa não prestava muita atenção nela, ao invés disso, seus olhos percorreram a floresta e passaram por Albanac, a princesa levou um susto, mas ao voltar a olhar para a árvore o elfo havia sumido, os olhos dela brilharam com a imagem daquele belo ser, havia sido sua imaginação?
Albanac pulara para outra árvore quando percebeu a ação da princesa.
– O que foi princesa Giane? – A mulher perguntou.
– Nada. – Respondeu a elfa. – Vamos?
Os cavalos partiram na direção da cidade, deixando Albanac de um jeito estranho seu coração apertava e a imagem de Giane não lhe saía da cabeça, ele sentou-se no galho da árvore e recostou-se no tronco.
– Princesa... – Sussurrou. – ESPERA AÍ! – Albanac levantou-se de um salto. – A princesa de Vaulenda, o palácio, é pra lá que eu vou.
Albanac pulou da árvore, pôs a mão nas costas e contatou que estava armado, porém dessa vez ele não ia roubar, só precisava vê-la novamente. Giane...
A corrida não foi longa, logo Albanac chegou ao portão do palácio, mas se escondeu entre as árvores. Ele era conhecido, ninguém o podia ver ou então ele estaria perdido.
– O que será que aquele tal de O Sombra vai aprontar dessa vez? – Um dos guardas perguntou ao outro sorrindo.
– Não sei, mas... Eu estou com medinho. – O segundo guarda agitou os braços quando proferiu a palavra “medinho”.
– E você está certo... Deveria estar com “medinho”. – Os dois pularam de um susto, Albanac estava bem atrás deles.
Eles se viraram, mas era tarde demais, uma flecha perfurou cada um no coração, um tiro fora o bastante, como sempre.
Os dois guardas tombaram, Albanac escondeu os corpos e, de cima da grande muralha onde estavam os guardas, observou a cidade.
Àquela manhã Vaulenda estava calma, ninguém percebera a morte dos elfos, pois O Sombra sempre agia silenciosamente. Albanac pôs o capuz que cobria todo o seu rosto e desceu normalmente pelas escadas da muralha.
Lá embaixo estava tudo perfeitamente normal, Albanac via o palácio da cidade. Era imenso e possuía vários quartos e torres.
Albanac caminhou na direção do palácio, no caminho ouviu vários comentários sobre O Sombra, um dos elfos até disse que ele era o maior ladrão de todos os tempos, isso deixava Albanac contente de alguma forma.
Ele não sabia o que aquilo significava, nunca havia sentido seu coração apertar tanto, mas ele sabia o que fazer, precisava vê-la, tinha que saciar seu coração. Ele a queria.
Mas não sabia se a princesa sentia o mesmo que ele, porém, tinha certeza que o olhar dela dizia que sim, ela o amava.
Albanac levantou os olhos e viu que estava se aproximando muito do palácio, tinha que entrar sem ser percebido. O elfo não precisou pensar muito, pois ao dobrar em uma trilha que havia perto do palácio os moradores ficaram agitados, dois elfos vinham correndo e gritando algo como “Os guardas foram mortos”.
– O que houve? – Um oficial se meteu no meio da confusão.
– Uma flecha. – Um elfo gritou. – Eles foram mortos por uma flecha.
– O Sombra... – O oficial sussurrou, mas os moradores ouviram e correram desembestados pela cidade.
– O que houve senhor? – Um guarda saiu de dentro do palácio.
– É ele. – O oficial avisou. Vários guardas saíram do palácio, o caminho estava livre.
Albanac sorriu, não imaginava que seria tão fácil, ele saiu de trás da carroça onde estava e contornou o palácio.
O ladrão olhou para cima e tomou um susto. Na torre mais alta do palácio estava ela, a princesa Giane, a elfa mais linda e perfeita que Albanac já vira na vida.
Aquela era a hora, ele não teria outra chance como essa. De repente uma raiz brotou debaixo de seus pés e ele foi erguido, ninguém o via enquanto ele subia na raiz que fizera brotar do chão.
Todos da cidade corriam na direção do grande portão para constatar que os dois guardas haviam realmente sido mortos.
– Cerquem tudo. – O oficial ordenou. – Ele está aqui.
Todos se dispersaram enquanto O Sombra subia para o quarto de sua amada. De repente um grito saído da boca de Giane ecoou pela cidade, Albanac pusera os pés no quarto da princesa assustando-a.
– Vo-você... – Giane gaguejou ao fitar o rosto de Albanac por debaixo do capuz.
– Sim.
– Você é real? – Ela avançou e pôs a mão no rosto dele.
Albanac recuou, pois tomou um susto.
– Si-sim. – Ele se surpreendeu, nunca havia gaguejado com ninguém, sempre fora firme nas palavras, o que aquela elfa tinha?
– Eu o vi na floresta. – Ela já estava à vontade. – Mas achei que não fosse real.
– Eu sou... – Albanac levantou a cabeça.
– O que faz aqui? – Ela perguntou. – Quem é você?
– O motivo que me trouxe aqui foi você. – Albanac levou a mão ao capuz e enquanto o tirava continuou falando. – Meu nome é Albanac Riogan, e você é a única que sabe disso.
– O Sombra! – Giane pulou quando o capuz de Albanac caiu para trás revelando seu rosto.
– Calma. – Ele se aproximou.
– O que quer comigo? Minhas jóias? Minha coroa? – Ela se desesperou.
– Não, não quero nada disso. – Albanac a agarrou pelos pulsos. – Eu só queria ver você... E... – Ele parou ainda a segurando.
– E...? – Os olhos dela brilhavam com a beleza de Albanac.
– Dizer uma coisa. – A voz dele vacilou.
– Diga... – Ela sorriu e seus olhos brilharam.
– Princesa Giane... Eu... Te...
– SOLTE-A AGORA MESMO! – Um grito invadiu o quarto. Albanac a soltou e encarou o oficial que entrara no quarto seguido pelos guardas da cidade.
– Droga. – Albanac pôs o capuz e tentou correr para a janela, mas uma flecha do oficial o acertou na coxa direita e ele foi ao chão.
– Nãoooo. – Giane gritou.
– Você foi longe ladrão. – O oficial ignorou a princesa e armou mais uma vez seu arco.
– Ah... – Albanac gemia no chão.
– Seus dias de roubo terminam hoje. – Ele disparou contra a mesma coxa de Albanac.
– AHHHHH. – Ele nunca sentira uma dor tão grande em toda a vida.
– Você vem conosco. – O oficial pegou Albanac que estava sem reação, ele estava quase desmaiado por causa da dor.
– Gi... Giane... – Ele sussurrou e desmaiou.
Albanac acordou horas depois iluminado pela luz do luar que entrara pela janela de sua cela.

[/FLASHBACK]
– Droga. – Albanac sussurrou levando a mão ao ferimento na coxa direita. – Se eu ao menos tivesse dito que a amava.
Os pensamentos dO Sombra se dissiparam quando uma forte explosão foi ouvida e a parede da cela foi destruída por uma pedra enorme.
Vaulenda estava sendo atacada pelos orcs, e pior que toda a destruição que se via foi o que Albanac sentiu no coração. De repente seu peito doeu e o coração apertou, ele nunca sentira algo assim.
Mas era sua chance de ir embora, o ataque já demorara bastante, porém ele estava tão dentro de seus pensamentos que nem percebeu. O elfo corria mancando na direção da saída quando um grito o fez parar.
– Princesa! – Era a voz do oficial.
Albanac virou-se e seu peito apertou mais ainda. Giane estava nas mãos de um orc gigantesco, a criatura horripilante exibia seus dentes e garras para ela, a princesa estava perto demais da sua boca.
O ladrão teria de escolher, tinha a chance de fugir pra sempre, mas se fizesse isso sua amada morreria nas garras do orc, porém, se voltasse seria preso se não morto.
Mas era sua amada, Giane já se tornara parte de sua vida e ele não podia deixar que ela morresse.
– Droga. – O oficial gemia no chão, seu corpo estava todo quebrado pelo orc.
A criatura levava a princesa à boca quando parou abruptamente e seus olhos arregalaram-se.
– Solte-a seu desgraçado. – A voz de Albanac foi ouvida, o orc soltou a princesa e tombou, em suas costas e cabeça haviam cinco flechas disparadas pelo arco dO Sombra.
– Vo-você. – A princesa estava assustada com o orc, Albanac a segurou pela cintura e aproximou sua cabeça da dela. Era agora.
– Princesa... Eu te amo. – Albanac não esperou que ela respondesse e deu-lhe um beijo na boca.
Giane foi pega de surpresa, mas logo se entregou ao beijo e ao momento.
– Albanac... – Ela sussurrou. – Eu também te amo. Mas...
– Mas? – Ele observou o local, todos os orcs haviam sido mortos e ninguém parecia se aproximar, o único ali era o oficial que parecia desmaiado.
– Eu sou princesa. – Ela admitiu. – E você é um ladrão...
– O que é que tem? – Ele sorriu.
– É que... – Ela começou, mas parou logo, pois Albanac pôs o dedo indicador em seus lábios, ele não percebera, mas o rei e os guardas vinham chegando perto dos dois.
– Isso só torna as coisas mais... Interessantes. – Ele sorriu e beijou-a novamente.
De repente ele ouviu sons de arcos sendo armados e olhou em volta com um sorriso sínico no rosto, os dois estavam cercados por guardas.




Por: Leo Trayner