"Quanto todas as músicas se encaixarem, você encontrou a pessoa certa...."

O Coração Nunca Mente

L. F. Oliveira....

terça-feira, 28 de julho de 2009

O Tempo




A noite é escura e sombria, principalmente para um garotinho de doze anos como eu, mas por que o medo?
Eu sei que você está comigo, eu sempre me senti bem ao seu lado, não quero falar nada para não desfazer nosso sincero abraço, mesmo que esse abraço seja imaginário.
Mas o que eu sinto por você deixou de ser amizade há muito tempo. Para falar a verdade, Eu te amo.
Mas você sente o mesmo por mim? Nós nos conhecemos desde que tínhamos cinco anos, crescemos juntos, brincamos juntos, estivemos sempre juntos.
Eu sei que não deveria ter acontecido, mas algo mais cresceu junto com agente, a amizade pura e sincera que eu sentia por você acabou se tornando o mais puro e bonito sentimento de um ser humano.
Não é o momento certo para dizer o que eu sinto, até por que eu já a perdi mesmo, mas mesmo assim eu vou desabafar.

Naquele dia, nós estávamos brincando como sempre quando eu segurei seu braço.
– Tenho uma notícia. – Anunciei.
– O que houve? – Você perguntou preocupada.
– Meus pais vão se mudar para outro país.
Você parecia não acreditar, a essa altura seu rosto estava cheio de lágrimas, mas você é forte, sempre foi e ali você se segurou.
– E quanto você volta? – Você perguntou aos soluços.
– Daqui a seis anos. – Anunciei eu com tristeza na voz.
– Ainda temos tempo para aproveitar. – Você falou segurando o choro.
– Não, não temos. – As palavras saíram como facadas em meu estômago.
– Como assim? – Você perguntou com apreensão.
– Eu não quis falar pra você antes, para não a preocupar, mas a verdade é que nós partiremos amanhã cedo. – As lágrimas rolaram dos meus olhos.
Dessa vez tinha sido demais pra você, nós nos abraçamos e você chorou de um jeito que eu jamais havia visto. Os papeis se inveteram, eu que sempre era o chorão consolado estava consolando a pessoa que sempre me ajudara em tudo.

No outro dia eu acordei muito cedo, olhei para sua casa, que ficava em frente à minha, e um flashback passou em minha cabeça, eu não ia lhe ver mais por seis anos, será que eu suportaria?
Foi nessa hora, quando estava olhando para sua casa, que percebi uma coisa que eu havia esquecido, eu tinha comprado dois colares, um tinha metade de um coração e o outro tinha a outra metade, ambas com uma foto minha e uma sua, mas eu me esqueci de lhe dar e parece que eu tinha perdido minha grande chance.
Peguei os colares, pus no bolso e desci as escadas, nós saímos de carro até o aeroporto, o avião estava marcado para as seis horas, já íamos decolar, nós estávamos indo para o portão de embarque.
– Não! – Eu não acreditava naquilo, sua voz ecoava em minha cabeça.
Mas eu não estava ficando maluco, você estava lá, me virei de costas e a vi, seu pai ao lado, lágrimas em seus olhos, não agüentei e corri muito rápido, nós nos abraçamos e eu lhe entreguei o colar com a minha foto.
Fui pego de surpresa, você olhava o colar, de repente levantou a cabeça e me deu um beijo, um beijo apaixonado que se misturou com nossas lágrimas, naquele momento eu senti você comigo verdadeiramente, pouco tempo depois você pediu para que eu pusesse o colar em seu pescoço.
– Eu vou estar te esperando. – Você sussurrava para mim.
– Eu vou voltar e nós poderemos ficar juntos. – Eu disse olhando em seus olhos, você apertou o colar e eu parti.

Seis anos se passaram e em nenhum momento eu deixei de pensar em você, mas você pensava em mim também!?
O avião estava voando de volta para você, eu estava indo ao seu encontro, fui a viagem inteira olhando para sua foto, a única lembrança concreta que eu tinha de você.
Eu tinha avisado por telefone que viria hoje, nesse horário, então assim que desci do avião corri até o pátio do aeroporto esperando ver seu rosto, o quanto você teria crescido?
Eu procurei, procurei e procurei, mas você não estava lá, não tinha ido me ver, tinha me deixado.

Saí do aeroporto e peguei um taxi para o bairro que nós morávamos, desci do carro e vi minha casa, às minhas costas eu esperava vê-la no lindo jardim da sua casa, mas não havia ninguém lá, a casa estava velha e com uma placa escrita "vende-se" em frente a ela.
Olhei para o parquinho onde nós brincávamos e o vi lindo como antes, nele duas crianças, você mais nova seis anos abraçada com um garoto que eu reconheci na hora, eu.
A imagem se dissolveu e agora eu via o parque, velho, sujo e enferrujado. Você não estava ali.

Dias depois eu estava tendo uma vida normal, exceto pelo fato de minha melhor amiga e a garota que eu amava ter perdido o contato comigo.
Não sei se foi sorte ou destino, na verdade eu nem queria que tivesse acontecido, mas uma noite enquanto passeava na praia eu a vi, linda como sempre, meu coração disparou, mas eu não acreditava no que via, você estava aos beijos e abraços com outro, eu deixei cair o vaso que levava pra casa e você percebeu a ação.
Nós nos olhamos, as lágrimas desciam em meu rosto, você não acreditava no que via, você veio a mim.
– Eu posso explicar. – Você disse.
– Não precisa. – Eu falei arrancando o colar de meu pescoço.
Você soltou um gritinho, como se eu arrancasse algo de você, em seguida pegou o colar que trazia sob a blusa.
Aquela visão mexeu comigo, eu sucumbia em lágrimas, mas você estava firme.
– As coisas mudam... – Você começou.
– Esses anos todos, era só em você que eu pensava, era só você quem eu amava. Você disse que ia me esperar.
– Desculpe... Mas eu não posso corresponder esse sentimento.
Eu não agüentei, dei as costas e saí correndo, mas ainda deu tempo de ouvir você sussurrando um sincero "desculpe".

Enquanto escrevo essas palavras estou em meu apartamento, sentado em minha escrivaninha, as imagens do pior dia da minha vida estão em minha cabeça, ao lado dessa carta está um revólver que eu comprei mais cedo, estou escrevendo essa carta para você, a pessoa que me fez suportar seis anos longe de tudo, era só você, quanto tudo ficava difícil, era em você que eu pensava, mas agora você está em outra, sua vida deve continuar.
Porém a minha não tem mais sentido, a pessoa que fazia tudo valer a pena na minha vida, aquela do parquinho, agora está com outro, está distante.
A arma já está em minha cabeça e eu morrerei pensando em você.
Deixo essa carta para você guardar, pelo menos essa lembrança minha, eu nunca deixei de te amar, eu sei que isso nunca vai acontecer, mas eu só gostaria que você invadisse meu apartamento e dissesse três palavras: "EU TE AMO."

Assinado Leo Trayner